por Think Olga
Esta será uma semana de grandes aprendizados para muitos profissionais do mercado de comunicação.
Primeiro foi a revista Crescer, uma das maiores publicações do país voltada ao tema da maternidade, lançando um manifesto, com direito à hashtag, clamando por menos julgamentos para as mães. Uma causa justa, mas o vídeo não trazia nenhuma mulher negra. Oi? Em um país de maioria preta isso é inadmissível.
Depois, foi o fracasso total da campanha criada pela Agência Africa e divulgada pelaVogue Brasil que, com a suposta intenção de apoiar os jogos paralímpicos, Photoshopou o corpo de pessoas famosas com as características corporais de dois atletas (!!!). Eles também lançaram uma hashtag que começa com um infeliz “somos todos”, uma fórmula já velha e já intensamente criticada pelo apagamento de causas individuais que merecem atenção, resolução e respeito ainda que sofridas apenas por determinados grupos. Não somos todos paralímpicos - e nem precisamos ser para valorizar quem o seja.
Nos últimos anos, cada vez mais marcas e veículos de comunicação têm tentado abraçar causas sociais, não sem muita crítica daqueles que estão nelas diretamente envolvidos. Assim como a Crescer e a Vogue, muitos outros tentam recriar hashtags como #PrimeiroAssédio e #MeuAmigoSecreto por achar que não apenas entendem o porquê do seu sucesso, mas que também podem gerar o mesmo alcance diretamente das gélidas salas de reunião de seus prédios comerciais.
A superficialidade, o descaso e a completa falta de conexão com a realidade não nos surpreendem, mas não podemos deixar de apontar a responsabilidade dos veículos de comunicação na disseminação de preconceitos e na sistemática exclusão de minorias, especialmente quando estes supostamente se propõe a abraçar causas sociais.
Editorias, departamentos de marketing, produtoras e agências de comunicação são compostos por indivíduos. E, se esses indivíduos são frutos de uma sociedade machista, preconceituosa e espetacularmente racista, é praticamente impossível que consigam chegar a conceitos que, em algum nível, não estejam infiltrados por esses males.
Não adianta querer trazer “um pouco de femininismo” para a sua pauta, Crescer, e falar de maneira franca sobre as dificuldades da maternidade, e produzir um vídeo essencialmente racista. E a Vogue/Africa fazem um desfavor ainda maior ao não apenas trazer apenas pessoas brancas na sua campanha, mas também por legitimar um discurso que apaga completamente os paratletas como indivíduos. “Queremos nos apropriar da sua causa, mas não queremos mostrar seu rosto.” Que feio!
Merecem - e muito - a enxurrada de críticas que estão sendo feitas nas redes sociais (nossa força é linda ♥) e já vão virar lenda no mercado, sendo lembrados em muitas reuniões futuras mundo afora como o mau exemplo que são. Mas que, esperamos, aprendam, e parem de achar que têm o poder de lançar discursos tortos verticalmente e achar que serão aceitos - isso acabou já tem décadas. Superem. O poder está nas nossas mãos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário