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OFF DEMANDA

Esta será uma semana de grandes aprendizados para muitos profissionais do mercado de comunicação.
Primeiro foi a revista Crescer, uma das maiores publicações do país voltada ao tema da maternidade, lançando um manifesto, com direito à hashtag, clamando por menos julgamentos para as mães. Uma causa justa, mas o vídeo não trazia nenhuma mulher negra. Oi? Em um país de maioria preta isso é inadmissível.
Depois, foi o fracasso total da campanha criada pela Agência Africa e divulgada pelaVogue Brasil que, com a suposta intenção de apoiar os jogos paralímpicos, Photoshopou o corpo de pessoas famosas com as características corporais de dois atletas (!!!). Eles também lançaram uma hashtag que começa com um infeliz “somos todos”, uma fórmula já velha e já intensamente criticada pelo apagamento de causas individuais que merecem atenção, resolução e respeito ainda que sofridas apenas por determinados grupos. Não somos todos paralímpicos - e nem precisamos ser para valorizar quem o seja.
Nos últimos anos, cada vez mais marcas e veículos de comunicação têm tentado abraçar causas sociais, não sem muita crítica daqueles que estão nelas diretamente envolvidos. Assim como a Crescer e a Vogue, muitos outros tentam recriar hashtags como #PrimeiroAssédio e #MeuAmigoSecreto por achar que não apenas entendem o porquê do seu sucesso, mas que também podem gerar o mesmo alcance diretamente das gélidas salas de reunião de seus prédios comerciais.
A superficialidade, o descaso e a completa falta de conexão com a realidade não nos surpreendem, mas não podemos deixar de apontar a responsabilidade dos veículos de comunicação na disseminação de preconceitos e na sistemática exclusão de minorias, especialmente quando estes supostamente se propõe a abraçar causas sociais.
Editorias, departamentos de marketing, produtoras e agências de comunicação são compostos por indivíduos. E, se esses indivíduos são frutos de uma sociedade machista, preconceituosa e espetacularmente racista, é praticamente impossível que consigam chegar a conceitos que, em algum nível, não estejam infiltrados por esses males.
Não adianta querer trazer “um pouco de femininismo” para a sua pauta, Crescer, e falar de maneira franca sobre as dificuldades da maternidade, e produzir um vídeo essencialmente racista. E a Vogue/Africa fazem um desfavor ainda maior ao não apenas trazer apenas pessoas brancas na sua campanha, mas também por legitimar um discurso que apaga completamente os paratletas como indivíduos. “Queremos nos apropriar da sua causa, mas não queremos mostrar seu rosto.” Que feio!
Merecem - e muito - a enxurrada de críticas que estão sendo feitas nas redes sociais (nossa força é linda ♥) e já vão virar lenda no mercado, sendo lembrados em muitas reuniões futuras mundo afora como o mau exemplo que são. Mas que, esperamos, aprendam, e parem de achar que têm o poder de lançar discursos tortos verticalmente e achar que serão aceitos - isso acabou já tem décadas. Superem. O poder está nas nossas mãos.

Redes sociais e Marketing pessoal

Muito se fala no poder de destruição e desconstrução da imagem de alguém nas redes sociais. Na verdade, até antes, na Internet, a identidade de alguém poderia ser atingida e/ou arruinada por hackers e/ou pela própria mídia. Com a inserção das redes sociais, o uso para esses fins está ao acesso também dos usuários, que não precisam ser profissionais de tecnologia ou comunicação para expor alguém, ou a si próprio, seja para causar prejuízos ou benefícios.

Mas existe o outro lado da moeda: a capacidade de promoção ou autopromoção proporcionada pelas redes sociais. Esse é um exercício de observação e que conduz a uma experiência que permite associar a sedução da visibilidade às características comportamentais e psicossomáticas. Nas redes sociais, podemos criar um “avatar” de nós mesmos, um personagem, assumir outra personalidade, mudar ou criar outra face de identidade.
Magicamente todos somos lindos, respiramos generosidade, pregamos justiça, somos guardiões da moral, odiamos hipocrisia e afloramos nosso senso de cidadania ao extremos. Puro amor e lealdade. Repudiamos a corrupção, abolimos o preconceito e estampamos mensagens motivacionais e de autoestima. Exemplo de respeito ao próximo. Somos a caricatura da perfeição, do nosso melhor fomentado por curtidas e compartilhamentos.
Nos recriamos e temos vida própria nas redes sociais. Podemos usar as tecnologias a nosso favor, sendo nosso maior trunfo. Ou nossa maior cilada. E nessa hora, podemos notar que jornalismo e marketing são áreas que dialogam no cenário das redes sociais, esse resultado de tecnologias digitais, de relacionamento e de conteúdo. Espaço adequado e promissor para o marketing pessoal. Independente da categorização de Marketing, lembramos um dos conceitos do “pai” do Marketing, Phillip Kottler, “Marketing é o conjunto de atividades humanas que tem por objetivo facilitar e consumar relações de troca.”. Já Raimar Richer caracteriza Marketing como “as atividades sistemáticas de uma organização humana, voltada para a busca e realização de trocas com seu meio ambiente, visando benefícios específicos.”. Importante destacar que, no caso das redes sociais, os benefícios principais são o capital social e humano entendidos como investimento nas relações pessoais e profissionais.
 Produtores de conteúdo
 Na nossa página ou redes, somos (re)produtores de notícias e/ou fatos. Podemos fazer uma alusão à realidade do usuário de redes sociais ao trabalho dos jornalistas no que tange ao processo de busca e construção de notícias.  O internauta compartilha o conteúdo que considera importante conforme os próprios valores e que se afine com o seu senso de razão (nesse caso, diante da variedade de assuntos, atua como produtor selecionando temas para a pauta. A origem desse conteúdo, seja uma amostra do campo pessoal ou um link oriundo de outro portal, também é uma escolha estabelecida pelo proprietário da conta (no papel de editor classificando os temas e as abordagens, numa ação que remete a distribuição em editorias). Ao divulgar, opinião, imagens, links emite o conteúdo que gerou para a sua rede de conexões. Esse conceito de redes sociais permite compreender que cada conta ou página é uma mídia portadora de informações produzidas pelo dono/usuário/administrador. Nesse cenário, podemos relacionar a aplicação da Teoria do Gatekeeper, que pressupõe que as notícias são como são porque os jornalistas assim as determinamou seja, nas redes sociais as notícias ou conteúdos são como são porque o proprietário determinou, atuando como editor na definição e posterior apresentação da pauta.
É possível verificar a mudança do público, que migra de um comportamento passivo, que consumia mídias profissionais, para um comportamento ativo que, além de decidir o que quer, cria conteúdo através da sua percepção.
Outro fator que contribui para essa mudança de perfil é a inserção dos novos mecanismos digitais resultantes das conquistas tecnológicas, como por exemplo, o celular e sua evolução. Com a possibilidade de acessar à internet pelos dispositivos móveis, além dos recursos de foto e vídeo que permitem lançamento instantâneo nas redes sociais, muitas vezes o internauta acaba divulgando antes mesmo dos profissionais da mídia um fato de relevância social devido à capacitação tecnológica em equipamentos e sistemas. O cidadão, ao presenciar um fato, pode registrar por um dispositivo móvel e colocar na sua mídia, acaba informando antes da emissora de jornalismo que não estava no momento e que acaba utilizando imagens ou vídeos capturados pelo internauta. Esse é o um novo conceito da mobilidade que denomina o “consumidor sem limites”, onde ele pode acessar as redes sociais de qualquer lugar pelos dispositivos mobiles e ser um produtor de notícias ao captar em tempo real e compartilhar na rede.
No livro Redes Sociais na Internet, de Raquel Recuero, ela afirma que “ Como as redes sociais na Internet ampliaram as possibilidades de conexões, aumentaram também a capacidade de difusão de informações que esses grupos tinham. No espaço offline, uma notícia ou informação só se propaga na rede através das conversas entre as pessoas. Nas redes sociais online, essas informações são muito mais amplificadas, reverberadas, discutidas e repassadas.”, reforça o que foi dito acima sobre o novo lugar do consumidor a partir da instantaneidade das redes.  
Dessa forma, constatamos o imediatismo do Marketing Digital que é praticado pelo consumidor sem uma noção clara de que ao compartilhar imagens, preferências e opiniões está transmitindo um conceito de si mesmo construído por ele. É o que fica claro na afirmação de Claudio Torres, no livro A Bíblia do Marketing Digital : “O Marketing Digital está se tornando cada dia mais importante para os negócios e para as empresas”. Não é uma questão de tecnologia, mas uma mudança no comportamento do consumidor, que está utilizando cada vez mais a Internet como meio de comunicação, relacionamento e entretenimento.”
Uma versão editada de nós mesmos
Templo de felicidade. Benevolência à flor da pele. Todos amam os  animais e são defensores da sustentabilidade.  Eventos badalados. Churrascos de picanha. Brindes ao amor. Temos e somos os melhores amigos. Beleza é requisito básico: se não a tenho, a combinação entre a maquiagem, o filtro e o ângulo vão colaborar.  Selfie em frente ao espelho com roupa colada para exibir o corpo que a sociedade venera. Selfie com gente para socializar, o verbo da moda. Selfie em lugares lindos, loucos, inusitados para passar versatilidade. Selfie para mostrar, dizer, transmitir, confundir, elucidar. Selfie para ostentar em várias óticas.
Minha rede, meu conteúdo, minha realidade. Coloco o que quero ser, como quero ser. Eu me crio, recrio, invento, reinvento. Sou o meu melhor. Meus pensamentos são divinos. Ser do bem é legal. Na minha solidão, me transmuto no personagem que julgo ser perfeito. Ou sou aquele com todas imperfeições que a realidade me obriga a guardar nos escombros do meu eu.
Engraçado e paranoico. Positivo e negativo. Verdadeiro e falso. Ilusão e realidade. Dois polos. Dois pesos. Duas medidas. A escolha de como decidimos nos revelar vai contribuir para selar a identidade online e transcender para a offline. Ou vice-versa.
Quantas vezes conhecemos as pessoas que tem uma personalidade e um jeito de ser e verificamos que nas redes se mostram com outro jeito de ser. E aí reside o problema: isso pode ser um aliado ou um tiro no pé, melhor, uma saraivada de tiros pelo corpo todo.
Eis que o Marketing Pessoal que queremos fazer ou fazemos involuntariamente pode nos destacar diante de um grupo, ou conhecidos, nos aferindo poder e reconhecimento dentro de um nicho ou conquistando o lugar de bestialidade humana sendo alvo de risos dos “amigos” do face. Sejam quais forem as intenções e os parâmetros de medida que consideramos importantes, sejam curtidas, compartilhamentos e comentários, alguém vai ser e dar audiência para a sua página, ou para a sua vida virtual.
Podemos alavancar nossa carreira e passar ilesos, não 100%, pois a unanimidade é rara raridade, ou afetar a nossa reputação e imagem por descuidos e excessos de exposição e intimidade que poderiam ser mais bem utilizados se ficassem restritos aos momentos reais e não compartilhados com o mundo. Logo, o que for ser inserido no contexto digital precisa ser pensado antes porque pode refletir negativamente na sua vida pessoal e/ou profissional. Eu não estou fazendo apologia inversa à liberdade de expressão, pois acredito que o espaço deve ser usado conforme o autor deseja, desde que não utilize para ofender, agredir ou promover ações prejudiciais para a sociedade, pois nestes casos já entra uma questão de lei. O cuidado é sempre importante nas relações que construímos, pois muitas vezes, somos os responsáveis pela forma como somos vistos e as consequências podem ser irremediáveis.
***
Taís Garcia Teixeira é jornalista, professora e mestre em Comunicação e Informação

PROGRAMA FRENTE A FRENTE Especial Usina Serraria & O Borná de Teatro



de 8 à 25 de Dezembro de 2015
Rádio Princesa do Vale  1480 AM
das 7:15 às 7:45H

A convite do programa Frente a Frente o grupo O Borná de Teatro estará dialogando conosco hoje e durante a semana, sobre Cultura, Política, Comunicação e Mídia Livre,
são eles do Grupo O Borná de Teatro um dos ganhadores do prêmio de Mídia Livre do Ministério da Cultura com a iniciativa do Jornal-Zine ‘A Cacimba’, uma publicação independente, alternativa e revolucionária, nos dizerem dos próprios componentes.
E ainda durante a semana, nos programas seguintes contaremos com a presença de Itamara Almeida, Thiago Bernardo e convidados que estarão aqui no Frente a Frente dialogando sobre cultura, política, juventude e outros assuntos importantes.

1º DIA – TERÇA-FEIRA 8 de dezembro Mídia Livre!
Interlocutores - O Borná de Teatro :: Itamara Almeida, Thiago Bernardo de Franca, Yamara Santos e José Elias Avelino.

·       A proposta do Edital de mídia livre
·       O que é Mídia Livre
·       Premiação
·       Da iniciativa, do formato, do modo de produção.
·       Como surgiu?
·       Quais os assuntos abordados no Jornal A Cacimba Zine
·       Qual a importância da premiação para o grupo? Para Assu? Para o Estado?

Sobre o Prêmio Pontos de Mídia Livre:
O primeiro edital apoia iniciativas de comunicação compartilhada e participativa que busquem interatividade com o público, realizadas ou promovidas por coletivos culturais ou por entidades culturais. Trata-se da Terceira Edição do Prêmio Pontos de Mídia Livre, destinado a entidades e coletivos culturais que diretamente produzem e/ou apoiam iniciativas de mídia livre.
Foram selecionadas dez iniciativas de abrangência nacional, realizadas por entidades, e cada uma delas receberá R$ 100 mil.
Quanto às iniciativas de abrangência estadual, realizadas por coletivos culturais, serão um total de 25 e cada uma receberá o total de R$ 40 mil.
O mesmo valor será destinado a iniciativas de abrangência local ou municipal, realizada por coletivos e, nessa categoria, serão apoiadas 45 iniciativas.
As entidades ou coletivos culturais selecionados poderão ser certificados pelo MinC como Pontos ou Pontões de Cultura, caso desejem. 

 O que são iniciativas de mídia livre
Para efeito do edital, ele próprio conceitua mídia livre. São iniciativas que atendem aos seguintes requisitos:  
- articulam comunicação e outras áreas do conhecimento, a fim de agregar setores do Arranjo Produtivo da Cultura fazendo uso de suportes analógicos e/ou digitais; 
- não possuem financiamento direto e subordinação editorial a empresas de comunicação legalmente constituídas ou com vinculação partidária; 
- agregam e priorizam ações colaborativas e participativas, junto às comunidades atendidas, com atuação em rede na produção e difusão de conteúdo em formato livre por meio de diferentes suportes de mídia (áudio, imagem, texto, vídeo e multimídia); 
- utilizam ou estimulam a utilização e o desenvolvimento de licenciamentos livres que garantam a democratização do acesso aos códigos e conteúdos produzidos e o incentivo ao conhecimento e desenvolvimento colaborativo sobre as tecnologias utilizadas; 
- utilizam ferramentas livres para o desenvolvimento, criação, produção e adaptação de conteúdos visuais, gráficos, audiovisuais, textuais, de software, soluções e produções técnico-científicas; 
- contribuem para a ampliação e a diversidade das linguagens da comunicação social por meio da utilização de novas ferramentas e tecnologias; 
- estimulam a interação com o espaço público, utilizando a cidade como suporte para manifestações criativas, bem como intervenções que utilizam as diferentes possibilidades da inclusão digital a partir dos territórios, fortalecendo o direito à cidade e a apropriação cultural dos espaços públicos; 
- privilegiam a valorização da diversidade de expressões culturais e de compreensões do mundo, a tolerância e a pluralidade, promovendo a participação social, a cooperação e o compartilhamento de informação em diferentes mídias e por diferentes produtores/as de conteúdo; e
 - compreendem a cultura e a comunicação como elementos fundamentais para uma necessária ampliação dos direitos sociais e econômicos, com vistas à construção de uma sociedade mais justa e baseada em valores de igualdade, justiça, tolerância, respeito aos direitos humanos e à diversidade social, cultural, religiosa, étnica e de comportamento.


2º DIA – QUARTA-FEIRA 9 de Dezembro - Movimento Dá Licença, Coronéis !
Interlocutores – Itamara Almeida, Thiago Bernardo
Convidadas -   Jailma Lopes e Jovelina Santos

·       Falar do contexto em que surge o Movimento
·       Quais as reivindicações surgiram na época
·       Construção verticalizada
·       O que significou o Movimento para Assu

GUSTAVO - Ampliando a discussão do programa de ontem sobre Mídia Livre, como instrumento político, hoje temos aqui Itamara Almeida e Thiago Bernardo, juntamente com as convidadas
Jovelina Santos, professora da UERN departamento História
e Jailma Lopes estudante do curso de Direito pela UFERSA,

Ambas, estiveram na formação e construção do Movimento Dá Licença Coronéis e vieram para dialogarmos sobre a importância dessa ‘saída as ruas’ para a juventude e para a cidade de Assu.

Foi esse ‘movimento’ que possibilitou pensar hoje em ferramentas que dialoguem com as camadas populares da cidade
Como é o caso do Jornal-Zine ‘A Cacimba’, que nada mais é que a ampliação das discussões feitas na época do Movimento e feitas ainda nos dias atuais na Fanpage também do Movimento.

ITAMARA - Para situar: Em meados de 2013, acompanhando as manifestações nacionais a juventude de Assu construiu, de forma horizontal e participativa o Movimento Dá Licença Coronéis. As reivindicações giravam em torno de direitos básicos como educação, saúde, e a criação de um plano de mobilidade urbana, mas sobretudo o intuito do Movimento era discutir uma nova forma de se fazer política em nossa cidade, tão arraigada ainda de resquícios da política coronelística.
Depois de várias discussões, formações, reuniões e rodas de conversa o Movimento Dá licença Coronéis realiza no dia 4 de Julho de 2013 o I Ato Público no intuito de dialogar com a população Açuense e evidenciar as pautas elaboradas.

 GUSTAVO - Nesse sentido e, já passando a palavra para as convidadas gostaria de perguntar sobre a importância do Movimento para a História da cidade?

3º DIA – QUINTA- FEIRA 10 de Dezembro - Políticas Públicas à Juventude de Assu !!!
Interlocutores – Itamara Almeida e Thiago Bernardo de Franca
Convidados - Moacir Dantas (Conferencia Livre), Débora Almeida (Conferencia Municipal)

·       Falar sobre as conferências de juventude que aconteceu esse ano
·       Quais foram as pautas das conferencias
·       Qual a importância dessas conferências para a juventude de Assu
·       O que podemos perceber dessa nossa juventude
·       Quais as reivindicações
·       Quais as perspectivas de futuro para a juventude
·       Quais os próximos passos na construção de uma juventude mais atuante

Presentes:
Débora Almeida representante da I Conferência Municipal de Juventude
Thiago Bernardo representante da V Conferência Livre de Juventude

4º DIA SEXTA FEIRA dia 11 de Dezembro – O Espaço Público e as Políticas de Cultura !!!
Interlocutores: Itamara Almeida, Thiago Bernardo e José Elias Avelino
·       O que são Políticas de Cultura
·       Como devem funcionar
·       O Fomento Cultural na nossa cidade
·       Como dialoga o poder público com os artistas
·       Quais Espaços estão abertos a intervenções artísticas em Assu
·       O que fazer 


Continua...

Inteligência Emocional ...

ReBloger

... para lidar com o cliente sem noção !!!

Desde que meus bigodes ficaram brancos, não acredito mais em tudo que vejo (principalmente nas mídias sociais, na imprensa, na internet…). Por isso tentei contato – e não consegui – com Tatiana Rocha, usuária do Facebook que publicou prints de tela de uma conversa com uma possível cliente pelo WhatsApp. Mesmo assim vale a história para buscarmos aprender com ela.
Para resumir o que vi: no dia 10 de novembro, uma possível cliente, que tinha orçado com Tatiana lembrancinhas com o tema do Pequeno Príncipe, acabou contratando o serviço de outra profissional pois encontrou “mais barato”. Insatisfeita com o que recebeu, procura a empresária pedindo que ela REFAÇA as lembrancinhas para o aniversário que aconteceria quatro dias depois. A prepotência e o desrespeito da cliente são evidentes. Acompanhe abaixo:
A PROPOSTA INDECOROSA
…O TOM ESQUENTA…

E TERMINA COM O DESABAFO DA ARTESÃ

A história soa hilária, mas na verdade é mais um flagrante de desrespeito e a falta de educação da cliente. Muito se fala da grosseria do empresário, do garçom, do taxista. Mas pouco se fala sobre a falta de civilidade do cliente. No Facebook, o post recebeu centenas de comentários – quase todos apoiando a empresária ou relatando situações semelhantes com outras profissões:
- Na marcenaria acontece o mesmo;
- Meu cliente acha caro pagar R$ 100 para formatar o PC e paga R$ 40 para outro; semanas depois começam as ligações;
- Já passei por isso na minha profissão de serralheiro, vc vai lá, perde seu tempo, passa o orçamento o cara não com faz com vc e depois quer que vc conserte a M que os outros fizeram;
- Estou acostumada a receber clientes que aparecem para “corrigir” a maquilagem definitiva.
É mais uma vez a sabedoria popular mostrando que “o barato que sai caro” continua em vigor. Veja que no início na conversa a artesã manteve seu controle frente a uma situação de estresse. Mas do meio para o fim da conversa, ela também deixa a emoção aflorar e coloca “lenha na fogueira” da discussão.
Como educação vem de casa e não podemos “educar” o cliente em boas maneiras, o tema recupera uma característica fundamental para o empreendedor de sucesso: inteligência emocional. A capacidade de controlar as emoções em situações desconfortáveis, de tensão e desrespeito. Como as demais características do comportamento empreendedor, a inteligência emocional pode (e deve) ser treinada e aperfeiçoada corretamente. Como esta história mostra, o auto-controle vem sendo cada vez mais necessário.
Listo algumas dicas para exercitar e aprimorar a inteligência emocional.
- Controle os impulsos, conte até 10 antes de explodir.
- Entenda a diferença entre sentimentos e ações.
- Aprenda a reconhecer as emoções: ira, tristeza, fúria, medo, prazer, amor, surpresa, nojo, vergonha… E a identificar quais são seus gatilhos para cada uma, de que forma você responde a elas.
- Compreenda a perspectiva dos outros. Lembre que muitas vezes a pessoa do outro lado pode estar numa situação de estresse maior que o seu e por isso nem percebe o absurdo que está falando/fazendo.
- Use etapas para tomar decisões: analisar, estabelecer metas, identificar alternativas, prever consequências.
E, antes tarde que nunca, lembre-se: valor não é preço (leia post sobre isso aqui). Não deixe que o cliente determine quanto vale seu serviço. Calcule seus custos, preserve sua margem. Busque forças para que nada, nem ninguém, prejudique seu equilíbrio emocional.
Para saber mais sobre reconhecer emoções e como ligar com elas na vida e nos negócios, sugiro o livro “Inteligência Emocional”, best-seller do psicólogo Daniel Goleman. Há também um vídeo curto, com legendas em português, em que o autor dá dicas sobre como manter o foco frente a situações de estresse, tensão e ansiedade. Está no canal da Harvard Business Review no youtube e pode ser acessado aqui.
Marcelo Pimenta (menta90) é professor da ESPM e criador do Laboratorium. Nessa 3ª, às 22h, ele dará uma aula gratuita e aberta no MeuSucesso.com. Quem quiser se inscrever gratuitamente é só clicar aqui.

Democracia X Mídia Monopolizada

As grandes empresas jornalísticas possuem estratégias organizadas e articuladas para o exercício de suas ações de formação em massa de opinião. Para isso, executam um criterioso trabalho de seleção das notícias que serão apresentadas e a formatação cuidadosa da linguagem que será utilizada para comunicar. Nada está ali por acaso. Tudo é "milimetricamente" analisado e medido, testado, para produzir um resultado, gerar um efeito, de acordo com os interesses em jogo.
Por isso, não se pode falar em "democracia" quando se tem uma grande mídia monopolizada.
As principais estratégias são as seguintes:
"1) a linguagem que será veiculada nos noticiários para as grandes massas deve ter um apelo emocional antes do que racional e ser assim destituída de sentido crítico;
2) deve promover comportamentos alienantes ao reforçar medos e desejos consumistas que desfoquem a atenção para assuntos importantes;
3) deve se comunicar com as massas em linguagem infantil estimulando a ideia de que cobiças individualistas por carros, roupas e cremes de beleza miraculosos são fundamentais para a construção de sua personalidade e caráter; produtos que, após adquiridos, poderão ser exibidos, não mais para os colegas de colégio, mas agora nas "instâncias da vida adulta e madura";
4) deve manipular inseguranças com o presente e o futuro -- preferencialmente apontando terríveis inimigos -- e, concomitantemente, acenar que os problemas serão resolvidos, basta que se aceitem os sacrifícios atuais, entre eles a retirada de direitos sociais;
5) deve aclarar que tais problemas estão próximos da solução e, não muito depois, noticiar que, apesar dos imensos esforços dos governantes e da população, ainda é preciso mais algum tempo para que as dificuldades realmente acabem, pois as medidas tomadas não foram bem aplicadas e nem respeitadas por alguns setores e/ou pessoas;
6) deve incutir, gradativa e ininterruptamente, a necessidade da adoção de ações governamentais não populares até que elas, pela insistência, sejam banalizadas, incorporadas naturalmente e adquiram o status de corriqueiras. Assim, a sanção de leis antipopulares apenas será acolhida se antes houver um processo insistente de persuasão verbal e gráfica sobre a pretensa importância das mesmas."
Agora que você conhece as estratégias das grandes empresas jornalísticas, é bom que saiba que a indústria cinematográfica, aquela de Hollywood, também possui as suas, que são, inclusive, bem mais complexas e poderosas do que essas.
Por isso, é sempre bom manter-se em alerta, desenvolver o senso crítico, fazer reflexão constante sobre os assuntos mais importantes, ler, estudar, filosofar, abrir-se para o novo, eliminar preconceitos e ideias pré-concebidas (elas são resultado daquelas estratégias, em sua maioria) e elevar a consciência individual e coletiva.
(*) Fonte do trecho entre aspas: ensaio "A conjugação do poder e o exercício do verbo: a linguagem como instrumento de domínio e mudança. Érico Pinheiro Fernandes. In A ideologia do "Terceiro Setor", Gabriel Eduardo Vitullo (Org.), Coleção Ciências Sociais. -- Natal, RN: EDUFRN, 2012.


Poder político e manipulação: a estratégia da televisão (Rede Globo) no contexto da "integração nacional."

                                                           Mario Antonio
A historia da televisão brasileira começa com a inauguração da rede “Tupi” em 1950. Contudo, vai levar dezenove anos até ser veiculada a primeira transmissão em rede nacional (“Jornal Nacional” – Rede Globo). Apenas por este fato, a história da televisão brasileira poderia ser dividida em “antes da Globo” e “após a Globo”; entretanto como veremos adiante, as determinações que levaram a esse fato não são menos importantes do que as suas consequências. O conglomerado Globo de comunicação começa em 1925, com a fundação do diário vespertino “O Globo”.  Em 1944, o Sr. Roberto Marinho funda a Rádio Globo, apoiando a deposição de Vargas em 45 e a eleição de Dutra neste mesmo ano. Treze anos mais tarde, em 1957 a concessão do canal de televisão seria assinada pelo presidente Juscelino Kubitschek. (FERREIRA, 1991, p. 161). No entanto, é consenso o fato de que apenas em 1962, ao assinar um contrato de parceria com o grupo norte americano Time-Life, começa a surgir o ambicioso projeto do império de comunicação Globo (Ferreira, Kehl). Conforme Kehl, o modelo “empresarial” da rede Globo de televisão é resultado desse contrato – no exato momento em que a economia brasileira se abre ao capital estrangeiro. Este contrato - alvo de inúmeras criticas de grupos empresariais da imprensa e da comunicação (“Diários Associados” e “O Estado de São Paulo”) ligados a setores políticos (deputados Carlos Lacerda e João Calmon) -, seria objeto de investigação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito iniciada em 66 e que arrastaria-se até 69; ano do famigerado AI-5 e, coincidentemente em que a emissora passaria a veicular uma transmissão em “rede” nacional - “Jornal Nacional”. De acordo com a autora, o contrato com o grupo Time-Life, alem de oferecer a rede Globo “assistência técnica” e financeira - (...) “administração, programação, publicidade, controle do capital, orientação técnica, contrato e treinamento de pessoal, construção e operação de canais, compra e venda de materiais de propaganda” (...) -; (...) “ofereceu a Globo uma espécie de “gerente geral” no Brasil, o Sr. Joseph Wallach, que mais tarde se naturalizou brasileiro e incorporou-se aos quadros administrativos da Globo, tendo sido um dos pontos de apoio do “tripé” de executivos da emissora: Clark, Boni e Wallach.” (KHEL, 1986, p. 181). 

O modelo empresarial da rede Globo vai redefinir as relações administrativas com a política – do capital privado com o Estado. Homens “tradicionais”, nos negócios e na política, como o sr. Chateaubriand, dono do grupo Diários Associados (jornais, rádios e tv), já não preenchiam mais os requisitos exigidos por essa nova fase do capital. As novas determinações econômicas e o desenvolvimento tecnológico foram acompanhadas por mudanças nas relações de poder – elites econômicas e políticas emergentes. Homens modernos, empreendedores, visionários – quase “revolucionários”-, como desejavam os militares -, como o Sr. Roberto Marinho, Walter Clark, Mauro Salles, Joe Wallach e Boni, falavam da “(...) televisão numa linguagem empresarial que nada tem em comum com os códigos de quem pensa o veiculo em termos de produção cultural, (...).” O modelo global era pautado pelo profissionalismo estritamente empresarial, orientado pelo tripé: “produção, programação, administração/vendas.” (KHEL, 1986, p. 185). 

A autora sustenta que a relação da rede Globo com o capital e a tecnologia estrangeiros era conveniente aos militares naquele momento, pois, aliviaria o governo de incentivos e/ou favores a ainda incipiente e “artesanal” televisão; esta suposta “autonomia” técnico-financeira torna-se então o fato determinante para “convencer” os militares – já não se tratava de “incentivar”, mas, apenas de “viabilizar” a televisão. A “omissão” da caserna em relação a CPI, aliada ao oportunismo da rede Globo, convergem para o contexto de estratégias econômicas do governo que visava a emergente classe media e incentivava o mercado de bens de consumo duráveis (automóveis, TVs, eletrodomésticos, etc), aliada a constante produção ideológica (“Política de Integração Nacional e de Cultura”), culmina na ascensão da rede Globo de televisão nos anos 70 como a grande empresa, independente, autônoma, moderna e rentável.  



Hegemonia e poder.


“Os maiores triunfos da propaganda não se deveram a ação, 
mas sim a omissão de algum ato.” 
                      Aldous Huxley (“Admirável Mundo Novo”)
     

A hegemonia da rede de Globo de televisão coincide com a “Política de Integração Nacional”, idealizada pelos militares e, inspirada na doutrina “desenvolvimentista” de segurança nacional da Escola Superior de Guerra (ESG). Quando a televisão surge no Brasil, em 1950, o Rio de Janeiro era a capital do país, centro dos acontecimentos políticos, de onde emergem todas as decisões e convergem as doutrinas políticas. Situada no Rio de Janeiro, a Escola Superior de Guerra (ESG), naquele momento – pós-guerra e Guerra Fria - desempenhava papel importante na política nacional, formando a elite intelectual da caserna, oferecendo a base de sustentação para os ideólogos da doutrina “desenvolvimentista” que então surgia. De meados de 50 até o início dos anos 60 – pós-guerra, Plano Marshall e auge da Guerra Fria -, a questão do desenvolvimento capitalista no Brasil se fazia por meio da produção econômica aliada a constante produção ideológica, cabendo ao Estado o papel principal, para o controle e a manutenção do desenvolvimento destas duas formas interligadas de produção. Este modelo de governo, levado a cabo pelo presidente Juscelino Kubitschek, pretendia propor uma política que privilegiaria a aceleração do processo de crescimento econômico.  

Juscelino acreditava que com o crescimento da indústria no país, consequentemente, assistiríamos a vinda da prosperidade, que por sua vez, não atingiria apenas a pequenos grupos particulares, mas, toda à sociedade. Para ele, a busca da prosperidade, do desenvolvimento, era marcada por um forte apelo social, coletivo, integrado. Os aspectos centrais de tal ideologia consistiam em ordem e prosperidade. Trata-se de uma formulação que sugere prosperidade e democracia representativa como condição para a soberania no interior da ordem capitalista. Nesta perspectiva só os países prósperos são soberanos, pois a riqueza é a condição da soberania e seria a pobreza a maior ameaça à democracia - formulação da Aliança para o Progresso da Casa Branca. Corresponde a um modelo de governo que orienta as suas ações concretas, aparentemente no âmbito do desenvolvimento econômico, porém, são essencialmente políticas, uma vez que a luta pelo desenvolvimento econômico traduz-se na luta pela preservação da democracia. 

Diante da conjuntura internacional a época, da polarização ocidente/oriente e da expansão dos regimes comunistas, para esta ideologia era, “(...) em torno da fermentação da miséria tornada consciente que rondam os inimigos da liberdade”. (STEPAN, 1988, p. 16). Na Guerra Fria, a ação dos países subdesenvolvidos vinculados ao bloco ocidental deveria ser preventiva, com o objetivo de eliminar as causas da insatisfação que ameacem a ordem estabelecida. Para combater a miséria, considerada o fermento da subversão, o desenvolvimento econômico demonstraria que as raízes do mal são econômicas e como tal, devem ser tratadas. Neste período, o comunismo deixa de ser tratado como uma questão de ordem meramente policial - embora a vigilância e a repressão sejam constantes.  Para JK, o combate à miséria seria a forma mais eficaz de se combater a expansão do bloco soviético. 

Do ponto de vista da ideologia desenvolvimentista, as zonas subdesenvolvidas são zonas abertas à penetração da ideologia antidemocrática e, a luta pela democracia, identifica-se com a luta contra o subdesenvolvimento e o comunismo. Nesta concepção, a expansão comunista na América representaria uma ameaça a hegemonia americana, aos valores "democráticos" e o capitalismo. Deste modo é que o governo brasileiro ao propor a Operação Pan-Americana, objetiva “uma revisão da política interamericana, com vistas ao fortalecimento da unidade continental, diante do crescente perigo comunista.” (STEPAN, 1988, p. 18).

Esta política interamericana que enfatizava o caráter econômico, visando a obtenção de capital, consistia em um modelo de cooperação política-econômica que deveria fortalecer os laços que garantiriam a hegemonia americana cuja direção moral e política caberia aos EUA – o grande vencedor da II Guerra. Este modelo de governo, no seu planejamento, tratava de enfatizar o aspecto coletivo da segurança, quando da concessão de uso e instalação de equipamentos eletrônicos pelo governo norte americano na ilha de Fernando de Noronha, para a segurança nacional e continental, trata-se como se vê, de uma suposta questão de defesa coletiva no bojo de concessões de soberania. Com a Guerra Fria, a questão da segurança seria influenciada por ela e definiria-se em função dela. A defesa da hegemonia do bloco ideológico - da comunidade político-ideológica - consiste na própria defesa nacional, o limite já não é mais o Estado-Nação, mas o sistema democrático ocidental conduzido pela pax americana. Trata-se nas palavras de JK, “(...) da preservação do nosso sistema de vida e, conseqüentemente, da nossa independência e da própria civilização cristã”. Deste modo, a definição ideológica da segurança nos países ocidentais consiste basicamente numa posição anticomunista subordinada a Washington. A segurança nacional se identifica, deste modo, com a segurança do ocidente como um todo. Como as condições precárias de existência é que favoreceriam o surgimento de ideologias comunistas e socialistas, daí é que o desenvolvimento econômico passa a ser encarado como questão de segurança . Segurança e desenvolvimento econômico constituiriam nas regiões pobres, aspectos de uma única questão. Para JK, se “(...) o problema da segurança do Brasil é problema de desenvolvimento (...)”, para resolver o primeiro seria necessário equacionar o segundo; por isso, é que deste modo, as realizações no campo econômico eram feitas também para servir a objetivos político-ideológicos. (STEPAN, 1988, p. 22/24).

A ideologia do desenvolvimento procurava demonstrar que a ajuda econômica dos países desenvolvidos aos subdesenvolvidos solaparia as fontes de expansão da subversão, contribuiria para a defesa comum e ainda garantiria a rentabilidade do capital investido, não sendo, portanto, uma questão de generosidade, mas de defesa mútua de interesses. Interesses estes, sobretudo, morais e espirituais, para JK a expansão comunista representaria uma expansão dos ideais antidemocráticos, antinacionais e, sobretudo anticristãos. Por isso é que para ele, o desenvolvimento econômico deveria vir acompanhado e estaria subordinado a determinações mais altas, privilegiando as ideias e princípios morais e espirituais, em contraposição ao materialismo, diluindo os conflitos e reduzindo a discussão em relação aos fundamentos deste sistema enquanto tal. 

A Doutrina de Segurança Nacional, implementada entre 64/67 seria o prolongamento crônico e exacerbado da ideologia do desenvolvimento, idealizada pelos militares que entre 52/56 estiveram formulando-a na Escola Superior de Guerra (ESG). Apesar de no período de 64 até os anos 70 a Escola Superior de Guerra não representar mais o centro do poder, tendo, consequentemente, o seu poder reduzido – devido à mudança do poder militar (Ministério da Guerra) para Brasília -, ela representaria ainda, “(...) a instituição-chave, responsável pela sistematização, reprodução e disseminação do corpus oficial da Doutrina de Segurança Nacional e seu relacionamento com a política. Assim, embora não fosse um centro de iniciativa, era a fonte autorizada da ideologia militar para os militares enquanto instituição”. (STEPAN, 1988, p. 58). Foram os documentos oficiais da Escola Superior de Guerra à base doutrinaria militar para a elaboração de todo o sistema de ensino e socialização militares, bem como de todas as instituições do poder publico apropriadas pelos militares e as demais instituições criadas sob sua inspiração – Lei de Segurança Nacional e Sistema Nacional de Informação – S.N.I.. A produção ideológica consistia, essencialmente, em instrumentos (publicações) e mecanismos (cursos) de socialização e vigilância.

Nessa nova sociedade pós 68, sob o pano de fundo de uma política econômica desenvolvimentista (milagre econômico) é que surge a política de integração nacional, cujo objetivo era o de não deixar regiões afastadas do país sob influencias subversivas nacionais ou estrangeiras.  A política institucional, por sua vez, orientada pelo regime, “(...) só consegue conceber uma política cultural entrelaçada com as políticas de segurança e desenvolvimento (...)”; de modo que, “(...) a presença do Estado como elemento de apoio e estimulo à integração do desenvolvimento cultural (...)”, torna-se imprescindível no contexto do desenvolvimento (milagre) brasileiro. (KHEL, 1986, p. 172). No entanto, tal desenvolvimento deve ajustar-se as exigências de uma nova dinâmica social, em consonância com a economia de mercado - (...) “a partir de 68; a implantação de um mercado de bens duráveis e semiduráveis, e o incremento do mercado de bens supérfluos (...)” -, e a emergente classe média urbana. (KHEL, 1986, p. 194).

A cultura passa a ser medida, nesse contexto, em termos do seu consumo e não da sua produção, como qualquer mercadoria disponível e descartável na prateleira do supermercado. Conforme as palavras do ministro da Educação (1978) Eduardo Portela: “Assim como numa grande cadeia de supermercados, os bens culturais devem ser cada vez mais acessíveis à população”. (KHEL, 1986, p. 173). O papel do Estado vem a ser então, o de viabilizar um sistema cultural nacional e integrador e não mais o de controlar a sua produção. “Não diretamente controlada, mas viabilizada pelo Estado, a televisão é a grande cadeia de supermercados distribuidora de bens simbólicos que realizou o projeto nacional de integração cultural menos pela sua qualidade ou índice de produção, mas, pelo seu consumo”. (KHEL, 1986, p. 173). “(...) o compromisso ético-social da empresa que faz televisão não tem que ser maior do que o da empresa que faz macarrão”. (KHEL, 1986, p. 209). Este “raciocínio” do diretor para “Casos Especiais” e séries da rede Globo, Paulo Afonso Grisolli, demonstra em comum com o do ministro Portela, a linguagem “pragmática” dos modernos burocratas da política e, dos homens de negócios da propaganda. Do ponto de vista da propaganda, “(...) a mercadoria produzida por uma emissora de televisão é um bem de consumo que pode ser comparado a qualquer outro (...)”. (KHEL, 1986, p. 210).

O conglomerado Roberto Marinho, no pós-68 configura-se então, como “grande empresa”, “moderna” e adequada às exigências do “autoritarismo tecnocrático ” - “(...) sob o pano de fundo de uma política econômica desenvolvimentista, implantam-se sofisticados aparelhos ideológicos e repressivos (...)”. (KHEL, 1986, p. 178). “Vivencia-se um momento de superestimação dos padrões de racionalidade, de pragmatismo, de eficiência, de onde emerge o tecnocrata como protótipo do realizador de um novo trabalho político (...)”. (KHEL, 1986, p. 178). Entre as mudanças introduzidas pela rede Globo na televisão brasileira a mais significativa, sem duvidas, está na concepção “empresarial” – mais adequada aos termos do grande capital. O “estilo” empresarial do jornalista Roberto Marinho coincide com os novos arranjos no jogo das relações de poder na Ditadura. Na Globo, a televisão deixa de ser dirigida por pessoas do meio artístico e jornalístico para ser comandada por homens de negócios, publicitários e marketeiros (Walter Clark, José Bonifácio Sobrinho o Boni, Mauro Salles, Homero Sanchez, Valter Avancini, entre outros). A programação passa a ser pensada em termos de estratégias de comercialização da televisão – o “padrão” de qualidade não são mais do que “(...) estratégias para se vender imagens”. (KHEL, 1986, p. 179). “A televisão comercializa basicamente o tempo; (...)”, diz Dionísio Poli, diretor de Comercialização da Globo, em palestra proferida no I Seminário do Grupo de Atendimento a Veículos de Comunicação, “(...) ou melhor, o tempo e a audiência que consegue captar para cada segundo desse tempo. O anunciante compra um tempo de contato com o publico,” (...). “(...) em termos de potencial consumidor (...)”. (KHEL, 1986, p. 210/211). A comercialização, por sua vez, exige controle, centralização, uniformização; a horizontalidade da programação começava a ser buscada na televisão brasileira - direção vertical; programação horizontal. A estratégia de “centralizar a produção” porque propicia melhor “controle de qualidade” também custa menos e é mais rentável. Trata-se como se vê, da aplicação de uma racionalidade econômico-empresarial que implicava desde o inicio um projeto de rede.

O projeto de “rede”, sob o comando de homens de negócios e em sintonia com as políticas institucionais (econômica, cultural, integração nacional) dos militares, vai transformar a televisão – leia-se rede Globo - no grande empreendimento comercial da década de 60 até os dias de hoje. Com efeito, na confluência de fatores que contribuem para esse processo, foi determinante o “pacto velado” entre a emergente classe media urbana e os militares e, entre estes e a também emergente rede Globo. A expansão da televisão – difusão em rede, aumento de 10.000% no numero total de aparelhos no período 50/80 – corresponde à concentração econômica da urbana classe media – em 78, “(...) 50% dos domicílios brasileiros não possuíam TV, da outra metade; 80% encontram-se nas regiões Sul e Sudeste”. (KHEL, 1986, p. 214). Com a chegada das “cores” (73/74), ocorre um incremento no mercado publicitário, e a concentração da propaganda na televisão - em 77 a televisão ficava com 63% das verbas de publicidade, deste montante, a rede Globo levava 85% dos investimentos. (KHEL, 1986, p. 211/212). 

De meados para o final dos anos 70, a política institucional de desenvolvimento econômico e integração nacional vai encontrar o seu ideal de desenvolvimento na concentração – “no conjunto brasileiro, 57% dos municípios tem televisão; ao passo que nas capitais a média sobe para 84%”. (KEHL, 1986, p. 214). Em 78, “(...) em relação aos dez principais anunciantes (...)” - do país -, “(...) a televisão fica com 85% das verbas para publicidade; sendo absorvida em 73% apenas nos mercados de SP e RJ”. (KEHL, 1986, p. 212). Os números oferecidos pelo mercado publicitário nos oferecem um “perfil médio” do “quadro” de desenvolvimento brasileiro.  Os departamentos Comerciais e de Pesquisas da Globo vão estabelecer o perfil do publico telespectador em termos de Índice de Potencial de Consumo, considerada enquanto “mercado consumidor”  ou “alvo” para a publicidade. Estabelecidos estes “padrões”, ao mesmo tempo em que privilegia a “horizontalidade da programação”, facilita o “controle de qualidade” e desenvolve a “qualificação” desse público, portanto, da audiência de um determinado programa. Pode-se perceber uma tendência aberta, a privilegiar de um lado, a manipulação e de outro a concentração.   

A hegemonia das “Organizações Globo” , como preferiria o jornalista-empresário Roberto Marinho, assenta-se no seu projeto de “rede”, em consonância com a “política de integração nacional”, e no seu modelo empresarial-administrativo de fazer televisão, pensada prioritariamente como um empreendimento comercial. No discurso dos seus executivos, não pode haver duvidas, quanto à “missão” da televisão, dos seus “comunicadores sociais”, em sintonia com o governo, com a participação e o beneficio de todos.  “Motivação política, formação da vontade nacional, são tarefas impossíveis sem uma ampla sistemática de comunicação social, livre e apoiada em todas as mídias, em todos os veículos (...)”; nas palavras de Mauro Salles, em conferencia proferida na Escola Superior de Guerra em 74. (KHEL, 1986, p. 204). Em 77, em outra conferencia, o mesmo Sr. Salles, na Escola Superior de Guerra vai afirmar ser “(...) tarefa urgente da economia brasileira e do parque de comunicações sociais do país: incorporar ao mercado de consumo o quarto estrato da população – cerca de 20 milhões de brasileiros”. Adiante, prossegue: “São os sub-brasileiros, de responsabilidade de toda a nação. Na miséria, na fome, na opressão e na desesperança não existe opinião publica”. (KHEL, 1986, p. 206). 

É sintomático que esses discursos tenham mais em comum do que o simples fato de terem sido pronunciados na Escola Superior de Guerra, no entanto, verifica-se a capital importância desta instituição no projeto militar – conforme mencionado. Ademais, percebe-se ainda, sob uma nova e mais adequada roupagem ao contexto, a mesma associação automática entre “miséria” e “ordem” ou “desenvolvimento” e “segurança” e, sobretudo, que as práticas políticas ou as políticas institucionais não se renovam. De fato, o projeto de integração nacional levado a efeito pela ditadura militar, sobretudo, por meio da televisão (rede Globo), consistia em “construir” em interação com o publico uma “imagem de país e moralidade”. A televisão (rede Globo) corresponderia a um recurso eficaz e complemento do projeto uniforme do autoritarismo político. Eficiente veículo de integração nacional, difundindo um clima de confiança pelo “país que vai pra frente”, durante a sua “marcha pacifica” para o desenvolvimento, a rede Globo de televisão cumpriu importante papel no projeto militar de “dominação pacifica”. (KHEL, 1986, p. 203). Buscando a integração harmoniosa por meio da televisão, temos uma população unificada não enquanto cidadãos, mas enquanto consumidores, não enquanto povo, mas enquanto publico telespectador que articula uma mesma linguagem segundo um padrão definido.



Neste quesito, a fala do cineasta Walter Lima Jr. vai ser uma pérola: “(...) televisão é isso, é formato, na cabeça de um cara como o Boni televisão é só formato”. O caráter  uniformizador  imposto pela rede Globo de televisão está em que a emissora “(...) começou a se estruturar, não em termos de conteúdo, mas em termos de estética.” (KHEL, 1986, p. 244). A cor exigiu uma maior atenção visual em relação a cenários, figurinos, maquiagem, até chegar ao padrão de beleza dos atores nos dias de hoje. Contudo, a padronização da programação e a centralização da produção trazem mais vantagens do que facilitar o “controle de qualidade”. De um modo geral, tudo isso vai compor a marca do padrão Globo , padrão que se torna mais forte que o próprio conteúdo da sua programação no que isso diz respeito à formação do hábito no telespectador. 

Conforme Kehl, o Sr. Boni não deixa dúvidas: “(...) com uma boa estratégia de marketing forma-se o hábito, que é consequência e não causa”.  (KHEL, 1986, p. 186). Em decorrência do hábito tem-se a afetividade. Assim, a “identidade visual” torna-se tão importante para a televisão como o é a expectativa de que o telespectador crie afeto pela emissora; um não funciona sem o outro. Ela vai funcionar como um instrumento de personalização do veiculo para o telespectador e de controle e manipulação para a emissora, na medida em que vai ao encontro dos interesses comerciais da empresa. De fato, esta estratégia traz ainda a vantagem de que com o hábito e a afetividade, “(...) torna-se (a televisão brasileira) voz única – e voz sujeita ao condicionamento prioritariamente comercial”. (KEHL, 1986, p. 197). Para Bourdieu , entre os jornalistas, políticos, juristas e a televisão, existe uma capacidade constituída de atribuírem-se a competência ou a autoridade de “(...) defensores legítimos dos valores coletivos”. (BOURDIEU, 1997, p. 104). Esta capacidade da televisão em geral e da rede Globo em particular, de reconhecer-se enquanto tal, contribui para a produção de efeitos sociais reais e imediatos, onde observa-se, sobretudo, a forte influencia do poder econômico.  (BOURDIEU, 1997). 

Com efeito, ambos vão concordar que a “vocação” da televisão não é a de mobilizar/politizar, pois, seus procedimentos e seus agentes são incompatíveis com estes propósitos.  Deste modo, talvez a televisão ofereça justamente um estimulo oposto; para que o telespectador descanse tranqüilo em frente do seu aparelho, confiante de que as empresas privadas, os políticos/governo, os jornalistas e a televisão estão atentos e são os guardiães do desenvolvimento econômico e dos interesses coletivos. É a combinação harmoniosa destes fatores o que torna “(...) o papel controlador da televisão ainda mais eficiente, seus recursos ainda mais poderosos e as idéias ou a ideologia que ela veicula ainda mais facilmente hegemônicas”. (KHEL, 1986, p. 242).

Quando a integração nacional – via televisão - se dá ao nível do imaginário – estamos todos pertencendo a um todo unitário e harmonioso que nos contem e significa enquanto brasileiros. “Nós, (...) nos vemos refletidos todos os dias nas imagens de uma sociedade de consumo enquanto publico e enquanto mercado consumidor: assim se dá a integração dos brasileiros via EMBRATEL”. (KHEL, 1986, p. 176). Diante dessa suposta integração, acostumamo-nos a pensar na possibilidade de uma evolução social justa, que vai no sentido do inculto/despossuído ao aculturado/consumidor, dividindo a sociedade entre “os que precisam de ajuda” e “os que podem ajudar” com a televisão fazendo essa ponte. Nessa perspectiva, a desejada evolução só pode resultar do trabalho dos meios de comunicação que a estimula entre os excluídos; uma vez que também buscam e orientam-se por estes mesmos propósitos. Assim, a posse ou o desejo de posse torna-se a medida para a integração nessa sociedade; fechando-se um circulo supostamente progressista que gira sobre si mesmo. 

A ideia de uma cidadania pautada pela mídia - com prestação de serviços, informações de interesse coletivo, formação de "redes" de auxílio material, psicológico, emocional, etc. -, por enquanto, talvez seja a face de um incipiente populismo de mercado, por outro lado, vai ao encontro de outra ideia não menos perversa; a de que a “(...) televisão é o ponto de confluência onde se deve resolver simbolicamente a relação entre o poder político, o poder econômico e as necessidades da população”. (KHEL, 1986, p. 204). Talvez este seja um dos motivos do enorme sucesso dos “sensacionalismos de utilidade pública” - que vão desde “Gugu”, “Ratinho”, “Datena”, "Marcelo Rezende", etc. - entre a população. Este fenômeno consiste em que quanto mais a população acredita na televisão, menos ela vai acreditar na política ou no Estado para solucionar os seus problemas e/ou conflitos, daí que ela passa a recorrer à televisão e a mesma a canalizar e diluir os conflitos e interesses coletivos conforme os seus próprios propósitos. 

Referencias

FERREIRA A, As redes de TV e os senhores da Aldeia Global, in: NOVAES, A,(org.), Rede Imaginária, São Paulo: Cia. Das Letras, 2ª ed., 1991.

KEHL, Maria Rita B., Eu vi um Brasil na TV, in: COSTA, Alcir Henrique (org.), Um país no ar, São Paulo: Brasiliense Funart, 1986.


BOURDIEU, Pierre, Sobre a televisão, Rio de Janeiro: Zahar, 1997. 

STEPAN, Alfred, Militares: da abertura a nova republica, Rio de Janeiro: 1988.
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